quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Não basta ter dom, é preciso suar.

Essa foi a teoria defendida quando ousei dizer que: “o que diferencia os grandes artistas dos demais é o dom”.
Tudo bem! Vamos acreditar que é necessário realmente haver estudo de técnicas, métodos, regras; mas até onde o artista pode chegar se, conhecer tudo isso e não tiver o dom?
Na atualidade é fácil vermos “pseudo artistas” que são reverenciados nas artes plásticas (e nas demais). Porém, quem pode dizer quais deles irão ser lembrados através dos séculos?
Talvez tenham se esmerado no estudo árduo. Entretanto, prefiro acreditar que a verdadeira arte é aquela que toca e encanta a alma. É aquela que consolida a conversa entre a alma do artista e do apreciador de sua obra. E para estabelecer esta ponte é preciso muito mais do que suor.


[parêntese no post]
Tentando pensar nesse post me veio outra questão, bem pertinente: a “pobreza” do nosso vocabulário. Esse “nosso” que digo é do ser humano em geral. Algum dia você já se pegou sentindo ou pensando algo que não conseguiu expressar exatamente, pois (por mais que seu vocabulário seja extenso) não houve palavra que desse “conta do recado”?
Já me senti assim algumas vezes. Sei que não possuo o mais rico repertório de palavras, mas acredito que esse fato ocorra até com os mais letrados.
Qual a ligação deste parêntese com o post?
Não consigo encontrar a palavra que designaria o que um artista nato tem de diferente dos demais.

[voltando ao post]
Para que a ponte entre as almas se estabeleça, é necessário ao artista, além de domínio total da técnica, um pouquinho a mais do poder de Deus. No sentido de “criar” (e retratar) o que vai emocionar os demais. E aí, só o suor não basta, pelo menos não no meu entendimento.


[novo parêntese]
O parêntese anterior veio justamente por causa dessa segunda parte do post. A palavra criar significa dar existência (vida), dar origem a, formar. Para uma pessoa que acredita em Deus (como eu), esse poder seria único e exclusivo Dele. Só Ele poderia fazer surgir a partir do nada. E os artistas, por mais talentosos que sejam, não criam (no sentido literal da palavra). Monaliza não foi criada do nada, as quatro estações também não. Isso só para citar alguns exemplos. Tudo partiu do conhecimento prévio dos criadores dessas obras, da vivência, da visão de mundo, de um modelo, enfim, de um conjunto de coisas que não são “o nada”.
Mas aí, qual seria a palavra para explicar o diferencial dos grandes artistas?





Trechos extraídos da entrevista de Ferreira Gullar a Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano5|nº 59|Agosto 2010 – Feita por Vivi Fernandes de Lima e Rodrigo Elias.
Ferreira Gullar (Escritor, ensaísta, tradutor, dramaturgo, crítico de arte, autor do Manifesto Neoconcreto – 1959; nascido em São Luís do Maranhão em 1930)

“... Poesia é uma coisa que as circunstâncias determinam. Eu não posso decidir escrever um poema hoje a tarde. Não vai acontecer. O poema pelo menos no meu caso, nasce de um espanto, de uma descoberta inesperada. Às vezes, fico um ano inteiro sem escrever sequer um poema. Então preciso dar tempo ao tempo...” – Ferreira Gullar.

“Atualmente temos a chamada arte contemporânea ou conceitual. Na minha opinião, é uma coisa que pouco tem a ver com arte. – R H Por quê? – É só ver. Você acha que uma exposição que nos mostra larvas de mosca é arte? Pode até ser muito interessante, mas não tem nada a ver com arte... É uma besteirada. Mas não se pode dizer isso. Eu sou o único crítico que diz essas coisas. Todo mundo fica com medo de parecer retrógrado. Todo mundo é avançado, moderno. Eu estou cagando para a modernidade.” – Ferreira Gullar.

“... Arte é expressão, mas nem toda expressão é arte. Se eu pegar essa folha de papel e amassar, estarei me expressando. Um quadro em branco, sem nada, não é uma expressão? É. Se eu fizer um traço preto, é outra expressão. Arte não é isso. Não é feita nem pela natureza, nem pelo acaso. Arte é uma coisa do ser humano. A arte existe porque a vida não basta,a vida é pouca. E a arte nos traz coisas belas, fascinantes, atordoantes, maravilhosas. É para isso que existe. Não serve para mostrar larva de mosca.” – Ferreira Gullar.

“... A arte é feita para mudar a realidade” – Ferreira Gullar.

“... Nem todos são realmente destituídos de sentido. Na verdade, acho que os artistas estão naturalmente começando a se tocar e ver que o que estão fazendo não adianta nada. Daqui a pouco o cara tem 70 anos e só tem as fotos das exposições que ele fez, mais nada. Não existe obra porque ele expôs um troço que na semana seguinte foi desfeito.” – Ferreira Gullar.

Quanto a crítica de arte “... Nós estamos na época da civilização midiática. O que conta é a televisão, o popstar, essas coisas. É uma banalização de tudo. Em função disso, a arte e a poesia foram colocadas em segundo plano. Isso é uma bobagem, um desserviço à cultura prestado pela i mprensa.” – Ferreira Gullar

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